“As
suas costelas doíam e as suas mãos latejavam. Parte do resultado de ser
arrastado pela rocha com as mãos amarradas. Ele nem ao menos sabia onde estava.
Sentia o cheiro de musgos e o frio da pedra úmida, mas estava totalmente
desorientado. O saco de tecido que tapava sua cabeça e anulava quase totalmente
os seus sentidos estava ainda apertado. Seu grupo havia sido surpreendido há
cerca de uns dois dias atrás, ou esse era o tempo que ele achara que
transcorrera até então. Repentinamente o aventureiro começou a sentir a
presença de mais pessoas e a ouvir o barulho do que seria uma feira de
comércio.
Ainda
arrastado, foi levado a subir três degraus de rocha. O borborigmo ao seu redor
cessou quando alguém falou alto em uma língua desconhecida. Subitamente seu
capuz improvisado foi retirado e ele então percebeu sua real situação.
Drows
haviam lhe feito prisioneiro e agora estavam vendendo-o como escravo. Estava
sendo oferecido a venda em cima de um pequeno palanque numa praça de comércio.
Diversos seres e raças transitavam pelo local. Ele percebeu que tal praça havia
sido montada numa caverna. Aliás, percebeu que havia toda uma cidade nesta
mesma caverna.
Realmente,
a situação não era nem um pouco boa pro seu lado...”
Cidades
subterrâneas fazem parte da maioria dos cenários de rpg de fantasia medieval, e
até mesmo de alguns cenários modernos de sci-fi. Alguns cenários chamam essas
cavernas e caminhos de “underdark”.
Em
diversos romances e livros essas “cavernas habitadas” ou ruínas aparecem, desde
Moria na trilogia de Tolkien até Gauntlgrym ou Menzoberranzan nos romances de
Drizz’t e outros de Forgotten Realms. Ou quem sabe as cavernas dos molochs?
O
padrão é aquela cidade tomada por drows em suas aranhas, illithids devorando
cérebros ou anões em suas grandiosas fortalezas subterrâneas. Muitas vezes eu
fiz histórias em locais assim. Mas que tal fazer algo diferente?
Mas
como eu faço pra deixar a existência de um local assim mais verossímil?
Que
tal começar como qualquer outra cidade?
Como
assim?!?!
Basta
tentar seguir o roteiro abaixo:
1-
Qual o nome da cidade? De onde surgiu este nome?
2-
Quem habita esta cidade?
3-
Qual a história de lá?
4-
Como chegar neste local?
5-
O que existe lá?
6-
Alguém rege politicamente ou economicamente esta cidade?
7-
Como as pessoas de lá se sustentam? (Economia e sobrevivência)
8-
Existe alguma divisão da cidade (Bairros? Distritos?)?
9-
Alguma peculiaridade especial do lugar?
10-
Como eu posso usar esta localidade nas minhas histórias?
11-
Como posso fazer os personagens quererem chegar em um local assim?
12-
Algum grupo secreto (ou não) influente lá?
13-
Alguém mantém a ordem no local?
Bom,
vou exemplificar o que falei acima com um texto descritivo de uma cidade
subterrânea que criei para o meu cenário de Virian. Usamos esta cidade em
várias histórias. Teve um papel muito importante em uma das campanhas narradas
no passado.
Segue
as respostas:
1-
Mechius. O seu nome veio de um dos magos libertadores do local.
2- Inúmeras raças. Os primeiros a se
aproximarem da comunidade foram os drows, logo após vieram anões, humanos, illithids,
demônios, diabos, goblinóides, orcs, e hoje nota-se uma grande diversidade
cultural e racial.
3- Fundada por demônios e seus
adoradores. Foi libertada por magos necromantes que buscavam um local oculto
para seus experimentos. Depois de um tempo os magos desapareceram e deixaram
seus seguidores. Estes começaram a moldar melhor a rocha com construções e a
chamar mais a atenção, atraindo mais habitantes para o local.
4- Através de portais ou túneis que
ligam a outra cidade subterrânea (só de drows) ou através do topo da montanha
que está sobre ela (nas proximidades de uma fortaleza). Caminhos pouco
conhecidos.
5- Uma grande cidade com grande
variedade cultural.
6- Comandada por um grupo de
indivíduos que ocultam suas verdadeiras identidades.
7- Há uma fazenda de fungos e liquens
e rio subterrâneo que cruza a cidade. Sua economia funciona com base em
extração mineral, venda e compra de produtos raros e ilícitos, além de
escravidão e outras atividades ilegais dos reinos da superfície.
8- A cidade é dividida em Distrito
Central, Distrito Mercante, Distrito da Guarda, Distrito Nobre e um Distrito
Drow. O Distrito Central divide-se em superior e inferior.
9- Peculiaridades: moradias
construídas em estalagmites e estalactites, as construções aéreas são ligadas por
pontes suspensas; um rio que cruza a cidade e deságua em um grande precipício
subterrâneo; há um coliseu na cidade, para lutas e apostas; o local possui uma
iluminação proveniente das pedras e minérios das paredes do local; tem um
grande comércio de itens e equipamentos ilegais.
10- A cidade pode ser utilizada como
um ponto de exploração (por exemplo: conseguir um equipamento raro) ou ainda
como um ponto inicial da campanha (quem sabe os aventureiros não nasceram
ali?). Pode-se usar as diversas casas e facções como plot para intrigas
políticas. Pode-se usar a cidade como um refúgio de um culto secreto que irá se
opor aos aventureiros.
11- Pelos mesmos motivos descritos
acima, ou ainda: eles podem ser capturados e levados como escravos, ou quem
sabe são a escolta de algum comerciante.
12- Diversos, o que gera mais rumores
é o grupo denominado “Arautos”.
13- O mesmo grupo citado acima é que
taxa o comércio, fiscaliza a população e guarnece a cidade com um pequeno
exército de guardas.
Coloco neste post o pdf que fiz a
respeito da cidade de Mechius. Ele é genérico e pode ser utilizado em qualquer
sistema e facilmente adaptado para qualquer cenário: MECHIUS – CIDADESUBTERRANEA.pdf (715KB) – possui mapas e legendas para cada distrito.
O que eu fiz com essa cidade? Bom, em
um determinado momento da campanha, os personagens precisavam chegar ao topo de
uma montanha para chegar a uma fortaleza suspensa na cratera de um vulcão. Eles
então conseguiram pistas sobre um caminho subterrâneo, mas acabaram nas
redondezas de Dalbadaz’or, uma cidade Drow. Eles então foram capturados e
levados para a cidade e de lá eles tiveram que fazer uma elaborada e heroica
fuga, dessa forma chegando em Mechius cidade onde um dos personagens possuía um
contato e onde eles conseguiram se refugiar por um tempo, até seguir sua viagem
para o topo da montanha.
Livros que podem ajudar nessa função
de forma direta:
# Dungeonscape – An Essential Guide to Dungeon Adventuring
Jason Bulmahn & Rich Burlew – Wizards / 2007
# Drow of the Underdark
Ari Marmell & Anthony Pryor & Robert J. Schwalb & Greg A.
Vaughan – Wizards / 2007
# Forgotten Realms – Underdark
Bruce
R. Cordell & Gwendolyn F. M. Kestrel & Jeff Quick – Wizards / 2003
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